quarta-feira, 23 de março de 2011

Hobbies, Manias e Qualidade de Vida

Quase todo mundo tem um hobby (não, Carla Perez, não é o que você usa pra dormir).  É legal, é saudável, “relaxa, desestressa, te coloca no eixo”, como dizem Marcius Melhem e Leandro Hassum. Mas, o que é um hobby? Segundo o dicionárioweb,

“hobby:  (Pal. Ing). Passatempo favorito; derivativo que serve para preencher o tempo em que Se repousa de um trabalho habitual”

No entanto, aqui falarei de hobby tendo como foco, não o tempo, mas o dinheiro que este consome. Mais especificamente ainda, das manias que cada um de nós temos,  manias que nos levam a gastar nosso precioso dinheiro sem que sequer percebamos. Todos nós sabemos que ter um hobby é gasto certo de dinheiro. Tomemos pescar, por exemplo. Para pescar, você precisa de vara, anzol, chumbada, iscas (artificiais ou não). Isso é o básico. Quem for realmente “doido” por pescaria e tiver dinheiro para gastar, irá comprar um barco, uma bússola, um motor, várias varas, molinetes caríssimos, GPS, e a lista é interminável, tendo como limite tanto a falta de dinheiro como a falta do que fazer com ele. Além disso, os itens adquiridos para um hobby  variam desde coisas bem específicas e indispensáveis, como, um anzol, neste caso, até coisas que não são nem um pouco imprescindíveis e pouco relacionadas com o dito hobby, como, por  exemplo, um Whisky 18 anos para pescar relaxado, ou um iPod touch para tocar seu bolero favorito. Mas até aí tudo bem, somos todos consumistas.

Como disse antes, eu acho muitíssimo saudável ter hobbies. Os meus, por exemplo, são música e filmes. Como sou músico, gasto todo o dinheiro que eu tenho com instrumentos, microfones, efeitos, amplificadores, CDs, camisetas de banda, Jack Daniel’s,  o que você imaginar. No entanto, minhas compras são limitadas, como disse anteriormente, pela quantidade de dinheiro que eu disponho. Isso limita, não só a quantidade de compras, como a “qualidade” delas. Eu não tenho, por exemplo, 10 guitarras, nem cada guitarra minha vale o preço de um rim. Quanto a filmes, hoje em dia não gasto mais dinheiro com eles – mas invisto em uma boa conexão para poder baixar filmes em Full HD sempre que eu quiser. Todas as minhas compras têm um propósito comum – me prover diversão com as coisas que eu gosto, e cada uma delas me tem um uso.  E eu acho perfeitamente compreensível o investimento de tempo em dinheiro naquilo que a gente gosta. Você gosta de fazer churrasco e tem uma coleção de 200 facas japonesas feitas à mão? Ótimo. Coleciona vinhos? Selos? Zippos? Moedas? OK! Você é ciclista, e comprou uma bicicleta toda de titânio cujo design foi feito pela NASA? Meus parabéns!

O problema é que, às vezes, a coisa sai um pouco do controle, e os hobbies viram manias. E se existe algo em nossas vidas que nos controla mais do que religião ou o saldo bancário, são as nossas próprias manias e convicções. Estas são verdadeiras prisões. Meu pai, por exemplo, tem uma mania obsessiva por limpeza, saúde e segurança. Sua mania o leva a usar água mineral de campos do Jordão pra cozinhar e para lavar pratos, a comprar três (sim, três!) máquinas de lavar roupa para uma mesma casa, entre outros itens que fazem parte de uma lista interminável de manias que faz muito pouco sentido e tem pouquíssimo senso prático. Isso de fato o torna mais feliz, já que ele acha que isso tudo é necessário, mas por outro lado, dificulta enormemente sua vida (imagina se falta a bendita água mineral de campos do Jordão em todos os supermercados da cidade?), obrigando-o a ter preocupações e trabalhos realmente desnecessários. Mas isso é tópico para outro texto.

Entre as tais manias, existe a mania de “aparecer”. Refiro-me a pessoas, que, tem como único hobby, fazer de tudo possível e impossível para ostentar. Esse “hobby” é, em suma, o gosto exacerbado por, como diria um professor meu, “gastar o que não pode, para comprar o que não precisa, para fingir ser o que não é”. Pessoas que se importam em comprar um relógio, que custa, por exemplo, o salário de um mês inteiro. Comprar um telefone celular que custa o salário de dois, e que vive sem crédito. Comprar um carro, cujo custo não cabe no orçamento, e, portanto, roda sem seguro, combustível, e que, inevitavelmente será tomado pela justiça por inadimplência das 240 parcelas (restantes).  Ainda no exemplo do carro, o dono deste, provavelmente terá instalado um equipamento de som de altíssima qualidade, mas cujo propósito não é prover entretenimento musical com o máximo de fidelidade em todas as bandas de freqüência mesmo em altíssimo volume. Não, não, não. O propósito é o mesmo de todas as outras aquisições – ostentar. Mostrar que tem,  que pode, que é, e gastando tudo que tem em coisas que realmente não precisa ou que não gosta. E aí o cidadão vive na “pindaíba”, falta dinheiro para feira, não dispõe de pequenas utilidades domésticas do século 21, como microondas, internet ou chuveiro elétrico, não tem plano de saúde, nunca foi ao dentista. Nunca sai pra comer num bom restaurante com sua esposa numa data comemorativa. No entanto, quando sai com uma platéia adequada, o cidadão irá “dar uma de rico” e escolhe pratos e bebidas cujo preço é mais alto, mesmo que ele não goste (quando a conta chega, é uma confusão – diz que a comida não prestava, que a bebida era falsificada, inventa que tinha pentelho na comida, e por aí vai), com o único propósito de ostentar. Esse cidadão investe unicamente em coisas que possam ser vistas por terceiros.

No entanto, essa “emulação” de posição social tem um preço alto – a perda de qualidade de vida. Pequenas coisas do cotidiano melhoram sim, nossa qualidade de vida. Poder, por exemplo, ligar um ar condicionado em Juazeiro do Norte para não fritar com o calor, esquentar uma comida de forma rápida e prática enquanto se arruma para ir ao trabalho, não estar atolado em contas desnecessárias, tendo que trabalhar 16h por dia para pagá-las, ter tempo e dinheiro para arranjar um hobby de verdade, todas essas coisas tornam nossa vida um pouco melhor, e isso é irrefutável. E essa troca que está sendo feita (“emulação social” VS qualidade de vida), acredito eu, é, na maioria das vezes, feita de forma inconsciente. Ou será que o prazer propiciado por “emular” uma posição social “superior” é tão alto assim? Duvido muito. Como disse anteriormente, nossas manias, muitas vezes viram prisões da qual não podemos escapar.

Pense bem da próxima vez que você for comprar um Rolex, uma Hilux, ou sair com seus amiguinhos para ser mal atendido no barzinho do momento. Será isso necessário para se ter reconhecimento por parte dos seus amigos? Será que essas coisas estão valendo o suor do seu rosto? Acho que está na hora de rever os conceitos (e os amigos). Pelo menos uma coisa pode ser tirada disso tudo: alguém como eu vai se inspirar em alguém como você para escrever um texto divertido.



REIDAVERDADE
Por REIDAVERDADE

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